Sparr | David Grades

[folha de sala] 

A primeira coisa que precisamos de saber sobre sparr, o trabalho que David Grades apresenta no minimália, é que se trata de uma série de retratos de lutadores, de atletas envolvidos em desportos de combate, orientado por António Júlio Duarte num projecto do Atelier de Lisboa.

É importante saber, também, que David Grades não instalou um photo booth à saída do balneário, onde os atletas passavam a caminho do ringue, para fazer uma sequência mecânica de retratos com uma uniformidade de parâmetros técnicos que fizesse o conjunto sobrepor-se a cada unidade. David Grades fotografou os atletas individualmente em momentos distintos ao longo de um ano e em muitos lugares diferentes e, é fundamental, sabe o nome de cada um.

Cada retrato é um projecto em si, do mesmo modo que cada pessoa fotografada é um indivíduo complexo, único, relacional, com uma identidade e com um passado exclusivo. Se em August Sander o que era importante era o traço comum, o que havia de geral ou de universal nas pessoas retratadas — e que por isso não tinham nome, tinham título —, neste trabalho a importância está no traço distintivo, na humanidade, no que cada lutador tem de particular, de individual e não de tipológico.

Teria sido fácil, se David Grades o tivesse pretendido, explorar o pitoresco dos rostos suados, marcados, massacrados e desalinhados depois do combate. Seria fácil impressionar quem vê as fotografias pelos traços deixados pela força do confronto, pelo espectáculo da violência que faria dos retratos imagens indiciais de uma actividade ou até pelas tatuagens tão banais e quase obrigatórias neste universo. Mas não foi isso que interessou o artista. O que ele nos traz aqui são pessoas tão comuns quanto nós, pessoas que podemos encontrar na mercearia, que têm a sua identidade construída e isso é visível nos pequenos detalhes que os individualizam.

Ao contrário do que é mais frequente no retrato, onde o espaço tem o seu próprio lugar, onde, no plano da expressão, encontramos um espaço bidimensional que envolve a figura e lhe permite respirar, nestes retratos temos um primeiríssimo primeiro plano, um enquadramento tão fechado que faz com que a figura seja o todo. David Grades apresenta-nos uma visão crua e literal dos seus sujeitos, um olhar que, pela sua neutralidade, torna evidente a condição humana de cada um dos lutadores.

Sparr | David grades
Minimália, Lisboa maio de 2018

https://davidgrades.myportfolio.com/